sexta-feira, 6 de julho de 2012

Serguei Iessienin

Serguei Iessienin
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Serguei foi poeta e o maior expoente do chamado imagismo russo, sendo da mesma geração de Vladimir Maiakóvski. Para além do imagismo, desenvolveu uma poética opulenta em imagens e ritmos.
Nascimento
Serguei Iessienin (em cirílico: Сергей Есенин), nasceu na aldeia Konstaninovo, no distrito de Riazán, no dia 21 de setembro de 1895.
Seu pai, Alexander Nikitich, emergiu da classe camponesa e mudou-se para Moscou, onde se tornou um funcionário comerciante. Sua mãe, Tatiana Titova, trabalhava na cidade.
Estudos,vida poética e casamentos
Em 1904 foi enviado para a escola Константиновское земское, em Есенина, que terminou em 1909, com um certificado de mérito. Foi então enviado para a escola de uma igreja fechada na aldeia de Спас-Клепики.
Após a formatura, em 1912, chegou a Moscou. Trabalhou em uma livraria e depois foi para a impressora И. Сытина, o que permitiu ao futuro poeta ler diferentes livros.
Desde 1913, estudou no Departamento de História e Filosofia da Moscow City National University. No mesmo ano uniu-se em casamento civil com Anna Izryadnova, que no final de 1914 teve o filho George.
Na primavera de 1915 Esenin deixou sua esposa e filho e mudou-se para Петроград, onde acreditava que houvesse mais oportunidades para alcançar reconhecimento. Em Петроград, o jovem poeta prontamente entrou na elite literária, realizando e participando de encontros literários e salões.
Em janeiro 1916 o poeta foi chamado para o serviço militar, sendo transferido para um hospital militar em Tsarskoye Selo como médico.
Na primavera de 1917, no jornal "Дело народа" (Empresários), conheceu a jovem secretária Zinaida Reich e se casaram em 30 de julho.
Menos de um ano depois, em abril de 1918, o autor partiu com Zinaida Reich para Moscou, que se tornou o centro literário da Rússia. Em dezembro, tornou-se membro profissional da União de Escritores de Moscou.
Casou-se, no outono de 1921, com a bailarina Isadora Duncan.
Morte
O último ano de vida de Serguei Iessienin foi cumprido entre doenças, inquietações e bebidas.
Suicidou-se num quarto do Hotel Inglaterra, em Leningrado, sendo encontrado na manhã de 28 de dezembro de 1925 pendurado em um tubo de aquecimento a vapor. Seu suicídio provocou grande impacto na opinião pública.
Pouco mencionados foram seus relacionamentos secretos com homens. Antes de suicidar-se escreveu - supostamente - com o próprio sangue, um poema de despedida dedicado ao poeta Anatoli Marienhof, com quem vivia há quatro anos.
Maiakovski escreveu um poema crítico em resposta ao suicídio e ao poema suicida de Iessenin, de cuja poesia era grande admirador.
Na tradução consagrada de Haroldo de Campos, o canto de Maiakovski ao amigo morto dizia: “Por enquanto / há escória de sobra. / O tempo é escasso mãos à obra. / Primeiro / é preciso / transformar a vida, para cantá-la / em seguida. / Para o júbilo / o planeta / está imaturo. / É preciso/ arrancar alegria ao futuro. / Nesta vida / morrer não é difícil. / O difícil / é a vida e seu ofício”.
Obras
Entre suas obras destacam-se: ”The Scarlet of the Dawn“ de 1910, ”The Waters have licked“ de 1910, ”The Birch Tree “ de 1913,” Autumn“ de 1914, ”I´ll glance in the field“ de 1917, ”I left the native home“ de 1918, ”I am the last poet of the village“ de 1920, ”Lands of Scoundrels“ de 1923, ”Tavern Moscow“ de 1924 e ”Goodbye, my friend, goodbye“ de 1925, seu derradeiro poema.
Outono

Égua rubra alisando as crinas:
O outono na calma dos zimbros.

Sobre a margem terrosa e áspera,
O tinido azul dos seus cascos.

Monge-vento, passo medido,
Pisa as folhagens do caminho.

E beija o Não-Visível - Cristo,
Chagas vermelhas entre arbustos.

(1914)
Até logo, até logo, companheiro,
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro no futuro.

Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo.

(1925) - Tradução de Augusto de Campos

Iessienin escreveu - supostamente - este poema com o próprio sangue ao se suicidar cortando os pulsos e se enforcando em seguida.
A confissão de um vagabundo

Nem todos sabem cantar,
Não é dado a todos ser maçã
Para cair aos pés dos outros.

Esta é a maior confissão
Que jamais fez um vagabundo.

Não é à toa que eu ando despenteado,
Cabeça como lâmpada de querosene sobre os ombros.
Me agrada iluminar na escuridão
O outono sem folhas de vossas almas,
Me agrada quando as pedras dos insultos
Voam sobre mim, granizo vomitado pelo vento.
Então, limito-me a apertar mais com as mãos
A bolha oscilante dos cabelos.

Como eu me lembro bem então
Do lago cheio de erva e do som rouco do amieiro,
E que nalgum lugar vivem meu pai e minha mãe,
Que pouco se importam com meus versos,
Que me amam como a um campo, como a um corpo,
Como à chuva que na primavera amolece o capim.
Eles, com seus forcados, viriam aferrar-vos
A cada injúria lançada contra mim.

Pobres, pobres camponeses,
Por certo estão velhos e feios,
E ainda temem a Deus e aos espíritos do pântano.
Ah, se pudessem compreender
Que o seu filho é, em toda a Rússia,
O melhor poeta!
Seus corações não temiam por ele
Quando molhava os pés nos charcos outonais?
Agora ele anda de cartola
E sapatos de verniz.

Mas sobrevive nele o antigo fogo
De aldeão travesso.
A cada vaca, no letreiro dos açougues,
Ele saúda à distância.
E quando cruza com um coche numa praça,
Lembrando o odor de esterco dos campos nativos,
Lhe dá vontade de suster o rabo dos cavalos
Como a cauda de um vestido de noiva.

Amo a terra.
Amo demais minha terra!
mbora a entristeça o mofo dos salgueiros,
Me agradam os focinhos sujos dos porcos
E, no silêncio das noites, a voz alta dos sapos.
Fico doente de ternura com as recordações da infância.
Sonho com a névoa e a humidade das tardes de abril,
Quando o nosso bordo se acocorava
Para aquecer os ossos no ocaso.
Ah, quantos ovos dos ninhos das gralhas,
Trepando nos seus galhos, não roubei!
Será ainda o mesmo, com a copa verde?
Sua casca será rija como antes?

E tu, meu caro
E fiel cachorro malhado?!
A velhice te fez cego e resmungão.
Cauda caída, vagueias no quintal,
Teu faro não distingue o estábulo da casa.
Como recordo as nossas travessuras,
Quando eu furtava o pão de minha mãe
E o mordíamos, um de cada vez,
Sem nojo um do outro.

Sou sempre o mesmo.
Meu coração é sempre o mesmo.
Como as centáureas no trigo, florem no rosto os olhos.
Estendendo as esteiras douradas de meus versos
Quero falar-vos com ternura.

Boa noite!
Boa noite a todos!
Terminou de soar na relva a foice do crepúsculo...
Eu sinto hoje uma vontade louca
De mijar, da janela, para a lua.

Luz azul, luz tão azul!
Com tanto azul, até morrer é zero.
Que importa que eu tenha o ar de um cínico
Que pendurou uma lanterna no traseiro!
Velho, bravo Pégaso exausto,
De que me serve o teu trote delicado?
Eu vim, um mestre rigoroso,
Para cantar e celebrar os ratos.
Minha cabeça, como agosto,
Verte o vinho espumante dos cabelos.

Eu quero ser a vela amarela
Rumo ao país para o qual navegamos.
Sergei Iessiênin
Tradução de Augusto de Campos
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz

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